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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ALEXANDRE VON BAUMGARTEN

Alexandre von Baumgarten foi um escritor e jornalista brasileiro, assassinado em 1982 em condições misteriosas1 . Ele havia escrito o livro Yellow Cake, supostamente de ficção, sobre uma operação de tráfico de urânio a partir do Brasil para o Oriente Médio. Do manuscrito original, algumas páginas desapareceram após a sua morte.2
Comandada pelo delegado Ivan Vasques de Freitas, a investigação sobre a morte de Baumgarten junto com sua esposa Janete Hansen e do barqueiro Manoel Valente foi baseada no testemunho do bailarino Claudio Werner Polila, o Jiló, que acusou o General Newton Cruz de ter comandado o sequestro do jornalista3 4 . Newton Cruz foi absolvido em 1992 por falta de provas, já que Polila era portador de problemas mentais5 .

 
Ao assumir em 1986 o cargo de ministro-chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI), a convite do então presidente José Sarney, o general Ivan de Souza Mendes constatou que dois dos principais quadros da agência durante o governo João Baptista Figueiredo (1978-1984) – os coronéis Ary Pereira de Carvalho, o Arizinho, e Ary de Aguiar Freire – gozavam de uma prolongada mordomia no Exterior que fugia dos protocolos normais do governo. Homem de confiança do ex-chefe do SNI, general Octávio Medeiros, desde 1969, quando o ajudou na operação que resultou na queda dos militantes de esquerda do Colina (Comando de Libertação Nacional), em Belo Horizonte, Arizinho se encontrava em Buenos Aires, onde engordava sua aposentadoria com abono de US$ 6 mil mensais por serviços de espionagem. A mesma regalia era desfrutada pelo coronel Ary Aguiar – homem forte de Medeiros na agência central do SNI no Rio de Janeiro –, lotado em Genebra, na Suíça. “Ficou claro que eles estavam no Exterior escondidos porque tinham feito algo errado. Por isso pedi que retornassem imediatamente”, disse Ivan de Souza Mendes, recentemente, a um grupo de militares amigos.
A conclusão do general estava baseada numa coincidência intrigante. Os dois “Arys” debandaram dias depois de terem sido envolvidos no assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em outubro de 1982. Dois dias antes de morrer, o jornalista compôs um dossiê que envolvia membros do SNI num plano para assassiná-lo. No chamado Dossiê Baumgarten, os dois oficiais são acusados de terem participado da reunião em que foi decidida a sua morte.
A participação dos oficiais do SNI e de qualquer outro suspeito do assassinato do jornalista nunca foi comprovada. Apontado como principal testemunha do processo, o bailarino Claudio Werner Polila, o Jiló, apresentou uma versão fantasiosa alimentada pela imprensa e pela polícia na época, que acabou tirando o foco principal da investigação. Embora sofresse de problemas visuais, Polila declarou ter presenciado o sequestro do jornalista, de sua mulher, Janete Hansen, e do barqueiro Manoel Valente por ninguém menos que o chefe da Agência Central do SNI, o general Newton Cruz.
Esse mistério, no entanto, já havia sido desvendado no 14 de outubro, um dia depois do desaparecimento do jornalista, por agentes do CIE de Brasília. Responsável pela análise dos fatos da semana, o então agente no Distrito Federal, Marival Dias, teve acesso a um informe interno que caiu como uma bomba na comunidade de informação. “A notícia interna dizia que o Doutor César (o coronel José Brant) tinha comandado uma operação do Garra – braço armado das ações clandestinas do SNI –, que resultou na morte do Baumgarten”, disse Marival. Os detalhes do assassinato do jornalista foram passados a Marival pelo cabo Félix Freire Dias, o mesmo que cortava os ossos dos presos políticos na Casa de Petrópolis e participou de várias operações de captura e execução com o Doutor César no CIE.
De acordo com Marival, o Doutor César recebeu ordens para dar uma dura no jornalista e recuperar as provas que ele estaria usando para chantagear o SNI. “Mas, ao chegar no Rio, o Doutor César, oficial nervoso recém-chegado do CIE, acabou matando o jornalista, o que o obrigou a eliminar também sua mulher e o barqueiro Manuel.”
Pescaria – Marival esclarece que, quando a notícia chegou ao CIE, o corpo ainda não havia aparecido na praia e a imprensa nem especulava sobre o caso. De fato, o jornalista, que saiu no dia 13 de outubro para uma pescaria ao lado do barqueiro e da mulher, somente apareceu boiando doze dias depois na praia da Macumba, no bairro Recreio dos Bandeirantes. Segundo a perícia, ele não morrera por afogamento e havia marca de três tiros no cadáver. Dias depois, outros dois corpos carbonizados, apontados como sendo de Janete Hansen e do barqueiro, foram localizados em Teresópolis, mas até hoje não foram identificados pela perícia.
Antigo colaborador dos serviços de informação do Exército, Baumgarten usava a revista O Cruzeiro, de sua propriedade, para defender teses favoráveis ao regime militar. Pelos serviços prestados, conseguiu que o SNI lhe fornecesse cartas destinadas a empresários nas quais pedia publicidade. Segundo um amigo do jornalista, que não quis se identificar, ele passou a usar o mesmo método para angariar fundos para a candidatura de Medeiros à Presidência da República. “Aí está a chave do crime”, afirma o amigo. Em seu dossiê, Baumgarten conta que acabou entrando em atrito com o SNI porque a ajuda do órgão à revista não estava sendo suficiente para mantê-la.

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